segunda-feira, 28 de março de 2011

Montanhas de resíduos electrónicos aumentam – ONU pede que se utilizem tecnologias inteligentes para proteger a saúde

Numa altura em que as montanhas de resíduos perigosos de produtos electrónicos aumentam exponencialmente nos países em desenvolvimento, registando por vezes acréscimos de 500%, a ONU apelou à adopção de novas tecnologias e regulamentos em matéria de reciclagem, para proteger tanto a saúde pública como o ambiente.
Os resíduos electrónicos – computadores, impressoras, telemóveis, pagers, máquinas fotográficas digitais e aparelhagens de som, frigoríficos, brinquedos e televisões fora de uso – deverão registar um aumento substancial, paralelamente ao crescimento das vendas nos próximos dez anos em países como a China e a Índia, bem como nos países de África e da América Latina, afirma um relatório divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA).
O relatório, Recycling – from E-Waste to Resources, lançado numa reunião de peritos em resíduos perigosos realizada em Bali, na Indonésia, prevê que, em 2020, os resíduos electrónicos formados por computadores fora de uso tenham aumentado 500% em relação aos níveis de 2007, na Índia, e 200% e 400% na África do Sul e na China, enquanto os resíduos de telemóveis deverão ter aumentado 7 vezes na China e 18 vezes na Índia.
Por outro lado, na China, os resíduos electrónicos não são em geral correctamente tratados, já que são, na sua maioria, incinerados por recicladores caseiros para recuperar metais valiosos como o ouro, uma prática que liberta na atmosfera plumas de fumo constantes contendo poluentes tóxicos de grande alcance, com taxas de recuperação de metais muito baixas em comparação com instalações industriais de tecnologias avançadas.
"Este relatório confere uma nova urgência à necessidade de se adoptarem processos ambiciosos, formais e regulamentados para a recolha e gestão de resíduos electrónicos através da criação de instalações eficientes de grande dimensão na China", disse Achim Steiner, Director Executivo do PNUA.  "A China não é o único país que enfrenta um sério desafio. A Índia, o Brasil, o México e muitos outros poderão também vir a enfrentar graves danos ambientais ou problemas de saúde, se a reciclagem de resíduos electrónicos ficar entregue aos caprichos do sector informal".
"Para além de combater os problemas para a saúde, o aumento das taxas de reciclagem de resíduos electrónicos nos países em desenvolvimento pode gerar empregos dignos, reduzir as emissões de gases com efeito de estufa e permitir a recuperação de uma série de metais valiosos, tais como a prata, o ouro, o paládio, o cobre e o índio. Agindo desde já e planeando o futuro, muitos países poderão transformar o problema dos resíduos electrónicos numa oportunidade".
O relatório do PNUA foi lançado numa reunião da Conferência das Partes nas Convenções de Basileia, de Roterdão e de Estocolmo destinada a examinar a questão dos resíduos electrónicos tendo em vista a reunião do Conselho dos Governadores do PNUA, que terá lugar em Bali. O relatório recomenda que os países criem centros de excelência para a gestão de resíduos electrónicos, tomando como ponto de partida as organizações já existentes que trabalham na área da reciclagem e gestão de resíduos.
O facto de não haver na China uma ampla rede de recolha de resíduos electrónicos, aliado à concorrência do sector informal de baixo custo, tem dificultado a introdução de instalações de reciclagem de resíduos de tecnologia avançada, afirma o relatório, apontando como exemplo o êxito de um projecto-piloto realizado em Bangalore, na Índia, com vista a transformar a recolha e gestão informais de resíduos electrónicos.
O Brasil, Colômbia, México, Marrocos e África do Sul são apontados como sendo os locais com mais possibilidades de introduzir tecnologias avançadas de reciclagem de resíduos, pois são países em que o sector de reciclagem informal é relativamente pequeno. O Quénia, Peru, Senegal e Uganda têm actualmente volumes relativamente pequenos de resíduos electrónicos, mas é provável que esses volumes aumentem. Estes quatro países beneficiariam com o reforço de capacidades no domínio das chamadas tecnologias de pré-transformação, tais como o desmantelamento manual de resíduos electrónicos, diz o relatório.
O estudo refere ainda que a China já está a produzir aproximadamente 2,3 milhões de toneladas de resíduos electrónicos, por ano, internamente, sendo ultrapassada apenas pelos Estados Unidos, cujos resíduos atingem cerca de 3 milhões de toneladas por ano, e continua a ser um importante local de dumping para os países desenvolvidos, apesar de ter proibido as importações de resíduos.
"Os resíduos de uma pessoa podem ser as matérias-primas de outra", disse Konrad Osterwalder, Reitor da Universidade das Nações Unidas (UNU), que foi um dos co-autores do relatório, juntamente com o instituto de investigação suíço EMPA e a Umicore, um grupo internacional especializado em tecnologias de materiais. "O desafio de resolver o problema dos resíduos electrónicos representa um importante passo na transição para uma economia verde".
"Este relatório descreve em linhas gerais novas tecnologias e mecanismos inteligentes que, conjugados com as políticas nacionais e internacionais, podem transformar os resíduos em bens, criando novas empresas com empregos ecológicos dignos. Desta forma, os países podem simultaneamente contribuir para a redução da poluição associada à extracção mineira e à indústria transformadora, bem como para a eliminação de dispositivos fora de uso".

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